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edicao 333 /
o-diabo-anda-por-ai
Jó 1.7 nos leva a 1 Pedro 5.8 e 1 Pedro 5.8 nos leva a Jó 1.7.
Na
primeira passagem, Deus pergunta ao diabo: “De onde você vem vindo?”. E
o anjo caído responde: “Estive dando uma volta pela terra, passeando
‘por aqui e por ali’”. Na segunda, Pedro exorta: “Estejam alertas e
fiquem vigiando porque o inimigo de vocês, o diabo, anda “por aí” como
um leão que ruge, procurando alguém para devorar”.
Enquanto a
NTLH diz que o diabo “anda por aí”, outras versões preferem dizer que o
anjo caído “ronda em volta” (NBV) ou “gira continuamente” (J. B.
Phillips). Em outras palavras, o diabo existe, o diabo está solto, o
diabo é inimigo (o mesmo que aparece na parábola do joio), o diabo não
para, o diabo quer fazer vítimas.
A denúncia de Simão Pedro é “ex
cathedra”, isto é, ele fala com autoridade, pois foi uma das pessoas
que o diabo procurou e conseguiu abocanhar, na casa do sumo sacerdote
Caifás, na Sexta-Feira da Paixão, pela manhã (Mt 26.69-75).
As
voltas do diabo pela terra têm o propósito de descobrir brechas ou
fendas no caráter dos cristãos pelas quais possa entrar. O diabo é um
catador de rachaduras nas paredes e de goteiras nos telhados. A figura
da brecha é usada pelos profetas: “Vocês rejeitam a minha mensagem e
põem a sua confiança e a sua fé na violência e na mentira [e] esse
pecado será como uma brecha que vai se abrindo num muro alto: de
repente, o muro desmorona” (Is 30.13).
O amor ao dinheiro foi a
grande brecha no caráter de Judas. O Evangelho segundo João registra:
“Assim que Judas recebeu o pão [a senha pela qual o traidor seria
revelado], Satanás entrou nele” (Jo 13.27). Não houve mais jeito. Horas
depois, Judas “foi e se enforcou” (Mt 27.5).
É preciso tomar
cuidado com as rachaduras da vida. Talvez a mais comum e a mais perigosa
de todas seja a busca de nome, de poder, de posições cada vez mais
altas e de glória. Essa sede é inata. O seu “quase ápice” é quando
alguém “se passa por Deus”. E o ápice é quando alguém se julga “mais do
que Deus”.
As andanças do diabo “por aí” ou “por aqui e por ali”
podem ser vistas nas palavras de Jesus. O Senhor se refere a um espírito
imundo que “sai” de um homem, vai para um lugar deserto em busca de
repouso e, algum tempo depois, “volta” ao lugar anterior (Mt 12.43-45).
Já
que a realidade, por enquanto, é esta, Pedro ordena: “Tenham
autocontrole e fiquem alertas” (na tradução de Simon Kistemaker). É
necessário enfrentar o diabo. Tiago aconselha a mesma providência e
garante: “Enfrentem o diabo ‘e ele fugirá de vocês’” (Tg 4.7).
É essa vitória específica que nós cantamos no “Castelo forte”, de Lutero:
Se nos quiserem devorar
demônios não contados,
não nos iriam derrotar.
Nem ver-nos assustados.
O príncipe do mal,
com seu plano infernal,
já condenado está!
Vencido cairá
por uma só palavra!