Poderão
achar estranho o título, e quando souberem que sou psicanalista, dirão
que não sei falar de outra coisa. Bem, meus olhos foram treinados para
procurar por sinais de repressão, assim como os da arqueóloga buscam
sinais de civilizações soterradas. Mas o que isso tem a ver com o Natal?
Bastante, pois há muito tempo o significado cristão do Natal tem sido
soterrado por camadas de outros badulaques.
Vocês
sabem do que estou falando. Basta ouvir rádio, ver TV, abrir um jornal,
para notar como esta festa tem de tudo, mas muito pouco do que é
autenticamente cristão.
Quero, no entanto, escavar
com meu “faro” de psicanalista-arqueóloga para mostrar que podemos ver
nos Natais atuais os sinais do que foi reprimido – como se um sinal aqui
e outro ali ainda trazem a mensagem da Boa Nova. Quase como uma
mensagem a ser decifrada a partir de um código secreto. Precisamos ter
nossos sentidos aguçados para percebê-lo:
- O Papai Noel é uma caricatura do Pai do Céu, este sim o Pai do Natal.
- Os
presentes trazidos por Papai Noel, sempre os maiores presentes do ano,
remetem a Jesus Cristo, o maior presente já dado ao mundo: Deus se
fazendo menino, nascendo na condição humana para poder falar conosco.
Muitos filmes de ficção tratam deste tema, também remetendo a essa
possibilidade.
- As luzes coloridas apontam para Jesus que disse ser a luz do mundo – iluminando a existência humana que estava nas trevas.
- Há
muitas histórias belas de Natal que convidam a fazer as pazes,
reconciliar-se com os outros, mudar de atitude, levar presentes a
pessoas desfavorecidas. Tudo isso é um resquício arqueológico da
mensagem central do Natal: “Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos
homens (e mulheres!) de boa vontade”.
- A
relação da festa de Natal com as alegrias da criança pode ter duas
ligações “arqueológicas”: 1) Jesus veio enquanto criança, “um menino nos
nasceu”; e a alegria quando há crianças presentes no Dia de Natal evoca
isso. 2) A alegria pela criança também lembra que Jesus disse que cada
um de nós deve voltar a ser criança para entrar no reino dos céus:
receber o reino como uma criança o recebe – em alegria, em
reconhecimento da sua dependência dos pais, assim como Deus quer que
reconheçamos nossa dependência dele.
Poderíamos
então nos perguntar: por que o Natal cristão foi soterrado? Qual o
“terremoto” que conseguiu fazer isso? Talvez não tenha sido apenas um,
mas vários: um, certamente, soterrou a lembrança de que o dom de Deus é
gratuito e sem merecimento nosso. Os presentes atuais são comprados e
dados por mérito, portanto, escondem o principal do Natal: “Deus tanto
amou o mundo que deu seu único Filho para que todo aquele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Este o Natal cuja pilha
não gasta, cuja alegria não estraga e não passa da moda!
Se
tão somente resgatarmos o centro do Natal, poderemos, ao redor dele,
nos alegrarmos com crianças e luzes, com presentes e abraços, com
solidariedade e perdão. E este Natal divino iluminará todo o Ano humano,
e realmente o fará Novo!
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Karin Hellen Kepler Wondracek é psicóloga e psicanalista; professora na EST (Escola Superior de Teologia). É tradutora de Cartas entre Freud e Pfister, autora de Caminhos da Graça e escreveu um dos capítulos de Uma Criança os Guiará. É também co-autora de Aprendendo a lidar com crises (Editora Sinodal).
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