Ainda somos cristãos?*
No último domingo de Páscoa saí de casa antes das 6 horas, mais cedo que o habitual. Fui à igreja, onde participei do Culto da Ressurreição. No caminho, algumas surpresas me aguardavam.Logo perto encontrei um rapaz sentado no meio fio, sozinho, em desalinho, sugerindo-me que havia usado alguma droga. Mais à frente, dois senhores apoiavam um terceiro, trôpego e desbocado, em evidente embriaguez. Um grupo de jovens chegava ruidoso de alguma aventura coletiva. Casais caminhavam lentamente, trocando confidências e afagos. Passei também à frente de uma boate, com as luzes ainda acesas e gente pela calçada, indicando que o burburinho resistia ao clarear do dia. Imaginei que outros tantos night clubs, motéis e congêneres estavam igualmente com ocupação completa.
Na rua São Mateus encontrei uma procissão cantando hinos de alegria. Ela, porém, reunia umas 500 pessoas, num bairro que conta com mais de 20 mil habitantes. Haveria iniciativas semelhantes em outros locais? Na minha própria igreja, de seus trezentos membros, lá estavam apenas uns cinqüenta, para lamento do pastor.
Tentei relevar, pensando que se trata de Juiz de Fora, cidade orgulhosa de seu vanguardismo. Por estar próxima ao Rio de Janeiro, absorve com rapidez as mudanças dos costumes. Mas logo me lembrei dos cartazes que convidavam para uma cidadezinha do interior mineiro, onde se programou um “fest-folia” para os feriados da semana que é chamada santa. Os tempos são mesmo outros.
À tarde, ao percorrer um jornal de circulação nacional, não vi nenhuma menção aos eventos relacionados às comemorações da morte e ressurreição de Jesus Cristo. As matérias eram as de sempre, passando acintosamente ao largo de qualquer evocação religiosa. Nem os dados do IBGE, indicando mais de 80% de brasileiros que se dizem cristãos, parece incomodar.
Em seguida, olhando o jornal da cidade, constatei que não era muito diferente. Havia, sim, os horários das missas e eventos católicos. De resto, numa página do Caderno 2 misturava-se ressurreição, acontecimento genuinamente cristão, com rituais da fertilidade e outros de origem espiritualista e orientalista.
O que se passa em nossa sociedade? Ao mesmo tempo em que se resgata o prestígio da religiosidade, ela toma o caminho do subjetivismo e se aninha na individualidade, despida de envolvimentos litúrgicos. E, por essa via, segue facilmente também à margem de compromissos sociais, comunitários e éticos.
Chego a perguntar o que será da nossa civilização. Minados os seus alicerces, o que nos restará? A abertura ao diálogo e à diversidade, tão valorizados em nossos dias, é construtiva quando temos identidade bem constituída e fundamentada. Caso contrário, passamos a vítimas de dominação cultural, sob a ilusão de sermos pessoas esclarecidas.
Nota
* Publicado originalmente no jornal Tribuna de Minas (03/04/2007, p. 2).
• Uriel Heckert, psiquiatra, é professor aposentado da Universidade Federal de Juiz de Fora e um dos fundadores do Corpo de Psicólogos e Psiquiatras Cristãos.

![A cadeira está vazia!
[Não li, mas vi em Lucas 15:23,24]
Estão todos descalços correndo com um laço na mão atrás do bezerro mais forte do rebanho, gritam de alegria, o cercam para o abate. Um churrasco está sendo preparado, o tonel de vinho mais antigo e gostoso está sendo aberto. Estamos ouvindo cânticos e palmas.
Algumas mulheres estão trazendo uma roupa de linho puro, sem costura de alto a baixo que, mesmo cheirando guardado, são recebidas com gritos e brindes.
Três lugares de honra na grande mesa da mansão: no meio está um senhor de idade, cabelos brancos, olhos serenos e um sorrio de orelha a orelha.
Ao seu lado esquerdo um jovem sem graça, cabisbaixo, com o anel do senhor da casa na mão. Me lembra até um dos meninos do senhor que houvera partido anos atrás e que dizem estar morto.
E do seu lado direito, o mais importante: a cadeira está vazia! Deveria estar seu filho primogênito! O que aconteceu de tão grave para ele perder este momento tão importante?
Marcos Botelho
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Talvez não haja outro livro da Bíblia tão contundente contra o pecado da soberba quanto os Provérbios. Ele associa a queda, o fracasso e o escândalo ao orgulho, como se pode ver em seguida.
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